O copal, frequentemente referido como "âmbar brasileiro" em contextos sul-americanos, é uma resina vegetal subfóssil que ocupa uma posição intermediária entre resinas frescas e o âmbar completamente fossilizado. Valorizado por sua beleza, versatilidade e significado cultural, o copal tem sido utilizado desde tempos pré-colombianos até a era moderna em aplicações que vão desde incensos cerimoniais até joalheria e vernizes industriais. No Brasil, o copal é associado a resinas de árvores tropicais, especialmente da família Fabaceae, e é conhecido por sua transparência e inclusões orgânicas. Este artigo explora as propriedades físicas e químicas do copal, com foco no copal brasileiro, sua história, variedades, ocorrência geográfica e utilizações, destacando sua relevância cultural e econômica.
Origem do Nome
O termo "copal" deriva da palavra náhuatl copalli, que significa "incenso" na língua dos povos mesoamericanos, refletindo seu uso tradicional como resina aromática queimada em rituais. No Brasil, o copal é frequentemente chamado de "âmbar brasileiro", embora seja mais jovem que o âmbar verdadeiro, que requer milhões de anos para se formar. O termo "âmbar brasileiro" é um nome comercial que enfatiza sua semelhança visual com o âmbar, mas pode gerar confusão, pois o copal é menos fossilizado. A designação reflete a origem botânica de árvores tropicais brasileiras, como Hymenaea courbaril, e sua importância regional.
Variedades
O copal abrange diversas variedades, classificadas por origem geográfica, idade e dureza. As principais incluem:
Copal Brasileiro: Proveniente de árvores como Hymenaea courbaril (jatobá), encontrado no Brasil, especialmente na Amazônia e no Cerrado. É macio, com tons amarelo-esverdeados a verdes, e contém inclusões orgânicas. Também chamado de "copal da Amazônia".
Copal Colombiano: Originado de sedimentos quaternários (400–600 anos), com tons amarelo-alaranjados e alta transparência.
Copal de Madagascar: Formado em depósitos quaternários (50–60 anos), com cor amarelo-clara e inclusões de insetos.
Copal Kauri: Extraído de sedimentos pleistocênicos na Nova Zelândia (10.000–30.000 anos), caracterizado por sua estrutura frágil e ausência de ácido succínico.
Copal de Zanzibar: Um copal duro da África Oriental, derivado da árvore Trachylobium, com tons amarelados a avermelhados e transparência semelhante ao âmbar.
O copal brasileiro é considerado um copal macio (le tendre), comparável ao copal de Manila ou Bornéu, devido à sua menor fossilização.
História
O copal tem uma rica história cultural, especialmente nas Américas. Na Mesoamérica pré-colombiana, o copal da árvore Protium copal era queimado como incenso em cerimônias religiosas, uma prática que persiste em comunidades indígenas. No Brasil, o copal de Hymenaea courbaril era usado por povos indígenas para fins medicinais e espirituais. A partir do século XVIII, os europeus reconheceram o valor do copal como ingrediente de vernizes para móveis e carruagens, aumentando sua demanda. No século XIX, o copal brasileiro foi exportado para a Europa e América do Norte, usado em vernizes para trens e pinturas. Hoje, o copal brasileiro é valorizado na joalheria e na paleontologia, devido às suas inclusões de insetos e plantas, que oferecem insights sobre ecossistemas recentes.
Composição Química
O copal é uma resina diterpenoide composta principalmente por ácidos comúnicos, comunol, resenos e óleos voláteis, com uma estrutura química baseada em labdanos (C₂₀H₃₂). No copal brasileiro, a resina de Hymenaea courbaril contém ozic acid, ozol e enantio biformenos, que favorecem a polimerização rápida, mas não tão avançada quanto no âmbar. A espectroscopia FTIR revela uma banda vibracional em 1643 cm⁻¹ (estiramento C=O) característica dos ácidos comúnicos, distinta do âmbar, que exibe uma banda em 1735 cm⁻¹ associada a grupos éster. Traços de minerais, como quartzo ou calcita, podem estar presentes como inclusões.
Propriedades Físicas
Dureza na Escala de Mohs
O copal tem uma dureza de 1 a 3 na escala de Mohs, sendo muito macio e facilmente riscado, especialmente o copal brasileiro, que está na faixa de 1,5 a 2,5 devido à sua menor polimerização. Essa propriedade requer manuseio cuidadoso em joalheria.
Densidade Relativa
A densidade relativa do copal brasileiro varia de 1,03 a 1,08 g/cm³, ligeiramente inferior à do âmbar (1,05–1,10 g/cm³). Essa baixa densidade permite que o copal flutue em água salgada saturada, um teste comum para diferenciá-lo de plásticos.
Ponto de Fusão
O copal brasileiro amolece a cerca de 90–160°C e funde entre 245–305°C, temperaturas mais baixas que as do âmbar (300–400°C). Essa propriedade facilita seu uso em vernizes, mas limita sua estabilidade em condições de calor elevado.
Clivagem
O copal não apresenta clivagem, pois não possui uma estrutura cristalina definida, sendo um material amorfo. Essa ausência de clivagem contribui para sua fratura característica.
Fratura
A fratura do copal é conchoidal, produzindo superfícies curvas e lisas, semelhantes às de vidro. O copal brasileiro pode exibir fraturas vítreas com bordas afiadas, especialmente em peças frescas.
Índice de Refração
O índice de refração do copal varia de 1,53 a 1,55, próximo ao do âmbar (1,54). Essa propriedade, embora útil em gemologia, é menos relevante devido à natureza amorfa e à transparência variável do copal.
Cor
O copal brasileiro ocorre em tons de amarelo-esverdeado, verde, amarelo-alaranjado ou verde-escuro, frequentemente com superfícies mais escuras devido à oxidação. Peças transparentes podem conter inclusões de insetos ou plantas, enquanto peças opacas têm tons mais terrosos.
Brilho
O brilho do copal é resinoso a vítreo, especialmente após polimento, conferindo um aspecto brilhante e atraente. O copal brasileiro polido exibe um brilho vítreo que realça sua transparência.
Transparência
O copal varia de transparente a translúcido, com o copal brasileiro frequentemente transparente em seu interior, mas com superfícies opacas devido à exposição ao ar. Peças com inclusões podem parecer opacas em certas áreas.
Cristalização
O copal é um material amorfo, sem cristalização definida, pois é uma resina vegetal em estágio intermediário de polimerização. Sua estrutura molecular é desordenada, distinta de minerais cristalinos, o que contribui para sua flexibilidade e fratura conchoidal.
Localização Geográfica
O copal é encontrado em depósitos subfósseis associados a árvores resinosas em regiões tropicais e subtropicais. O copal brasileiro é extraído principalmente em:
Amazônia: Regiões do Pará, Amazonas e Rondônia, associado à Hymenaea courbaril.
Cerrado: Áreas de Goiás e Mato Grosso, onde resinas são encontradas em sedimentos superficiais.
Nordeste: Pequenos depósitos na Bahia, associados a árvores nativas.
Outras localidades globais incluem Colômbia, Venezuela, Madagascar, África Oriental (Zanzibar) e Nova Zelândia (copal Kauri). No Brasil, o copal é frequentemente escavado em camadas superficiais ou próximo às raízes de árvores antigas, com idades de centenas a milhares de anos.
Utilização
O copal brasileiro tem diversas aplicações, refletindo sua versatilidade:
Joalheria: Usado em pingentes, brincos e colares, muitas vezes polido para realçar a transparência e inclusões de insetos. É tratado termicamente para imitar o âmbar, ganhando tons alaranjados.
Incenso e Rituais: Queimado como incenso em cerimônias indígenas e espirituais, devido ao seu aroma agradável.
Vernizes: Historicamente, usado em vernizes para móveis, carruagens e trens, devido à sua solubilidade em óleos e terebintina.
Medicina Tradicional: Em comunidades amazônicas, o copal é usado em emplastros e chás para tratar inflamações e feridas.
Paleontologia: As inclusões de insetos e plantas no copal brasileiro fornecem dados sobre ecossistemas do Holoceno, embora menos antigos que os do âmbar.
Cristaloterapia: Acredita-se que o copal estimule os chakras sacral, plexo solar e garganta, promovendo criatividade e clareza.
O copal, conhecido no Brasil como "âmbar brasileiro", é um material de beleza singular e relevância cultural profunda. Suas propriedades, como baixa dureza, transparência variável e fratura conchoidal, aliadas à sua composição química rica em diterpenos, o distinguem do âmbar verdadeiro, mas não diminuem seu valor. Desde seu uso em rituais pré-colombianos até sua aplicação em joalheria e vernizes modernos, o copal brasileiro reflete a riqueza botânica e cultural da Amazônia e do Cerrado. Sua extração, no entanto, exige práticas sustentáveis para preservar os ecossistemas tropicais. Como um arquivo de biodiversidade recente e um recurso estético, o copal continua a encantar colecionadores, cientistas e artesãos, consolidando seu lugar na história natural e humana.
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